Pérola Negra ( Poema simbolista)
Pérola Negra do meu Brasil
Pérola Negra da literatura do meu país
Vislumbrei o toque silencioso das tuas preces
Li a Antífona e dedilhei pouco a pouco
No limiar dos teus desertos.
Vi as formas alvas das divinas nuvens
Que vem e vão à simbiose ondulante das rimas
Salmodiei em surdinas preparando-me
Para a fecundidade melindrosa dos venenos pueris
Da aurora que despertava no pólen
Em todos os eflúvios por onde passavas...
Galguei os píncaros dos teus desmaios
Teu céu ansioso das estrelas
Junto aos arcanjos e cristais
Subindo em cantos formulando ritos
De diferentes ângulos musicais
Vesti as vestes angelicais com aromas de incenso
Que se perdiam nos sonhos da tua eternidade...
Sim... Da tua eternidade!
Brasil meu povo,
Minha bandeira... Meu chão!
Um grito alucinante percorreu caminhos
Introspectivos desalentos
Que se iam à sutileza do que já era...
Vestes brancas em sonhos juvenis
Figura em noite de temporais eternos
Dos santos que da liturgia nada tinham
Qual flor desabrochando em desalinho
Intrépida manhã no arrolho em pio
Surge o negro cantando e poetando
Na Ilha que descobre concha
Clara, intrépida, no recôndito do teu mar
Das brumas do teu salitre
Pérola fibra de poeta,
És tu, Cruz e Souza
Enaltecendo o nosso Brasil
Nas fibras de teu manto poeta
Nas siderações ansiosas das estrelas
Então desperta com tuas rezas
Teus trechos das ave-marias
O poeta na madrugada dos dias
E reza baixinho o terço intumescido
Entre seus dedos enrugados pelo cansaço
Das descrenças e dos preconceitos
Que doíam na carne ainda jovem dos teus dias
Crê em um novo estandarte
Libertação... O devaneio das letras
Dirigindo poemas... Poesia e contos
Desfraldando com galhardia um novo continente,
Poeta simbolista... Poeta do nosso Brasil.