Prudência
As VIRTUDES
A Prudência:
A polidez é a origem das virtudes, a fidelidade é o seu princípio e a prudência sua condição.
A tradição afirma que a prudência é uma das quatro virtudes cardeais da Antigüidade e da Idade Média. Nos dias de hoje a prudência é uma das mais esquecidas virtudes a serem aplicadas em nossa sociedade, pois os modernos afirmam que ela pertence menos à moral do que à psicologia, menos ao dever do que ao cálculo.
A prudência é vantajosa demais para ser moral e o dever absoluto demais para ser prudente.
A ética da responsabilidade quer que respondamos não apenas por nossas intenções ou nossos princípios, mas também pelas consequências de nossos atos, tanto quanto possamos prevê-las. É uma ética da prudência e a única ética válida. Melhor é mentir à Gestapo do que entregar um judeu ou um resistente.
As outras virtudes, sem a prudência não poderiam mais que revestir o inferno com suas boas intenções.
Os estoicos consideravam a prudência uma ciência, “a ciência das coisas a fazer e a não fazer”, diziam eles.
Aristóteles dizia que a virtude não basta mais para a felicidade do que a felicidade à virtude. A prudência é porém necessária tanto para a felicidade como para as virtudes e a própria sabedoria não poderia prescindir dela. Continuando,
“não é possível ser homem de bem sem a prudência, nem prudente sem virtude moral. A prudência não basta à virtude, mas nenhuma virtude poderia prescindir da prudência.
A prudência sempre leva em conta o futuro, na medida que depende de nós a encará-lo. O homem prudente é atento, não apenas ao que está acontecendo mais ao que poderá acontecer; é atento, presta atenção e segue a escolher o melhor caminho para um melhor resultado. Prudentia, observava Cícero, vem de providere, que significa tanto prover como prever.
A prudência é o que separa a ação do impulso, no fundo é o que Freud chamará de princípio da realidade ou pelo menos a virtude que lhe corresponde, tratando-se de desfrutar o mais possível e de sofrer o menos possível, pois a prudência é o que determina o que é necessário escolher e o que é necessário evitar. A prudência não é nem o medo e nem a covardia. Sem a coragem ela seria apenas pusilânime, assim como a coragem, sem ela, seria apenas temeridade ou loucura.
A prudência, dizia Santo Agostinho, são as escolhas sempre para melhor, pois é o amor que escolhe com sagacidade, pois o amor guia a humanidade e a prudência as ilumina.
Enganar-se-ia quem acreditasse a prudência superada; ela é a mais moderna de nossas virtudes e para a modernidade a mais necessária.
Já Spinoza afirmava que Cuidado é a máxima da prudência e é preciso ter cuidado com a moral também , quando ela despreza seus limites e suas incertezas.
A boa vontade não é uma garantia, nem a boa consciência uma desculpa. Em suma, a moral não basta à virtude, são necessárias também a inteligência e a lucidez. É o que o humor recorda e a prudência prescreve.
É imprudente ouvir apenas a moral e é imoral ser imprudente
Como todas as virtudes inerentes á alma humana, a prudência contribui para o nosso bem estar e facilita nossas relações com os outros. Sabemos perfeitamente que a vida é feita de imprevistos que retardam algumas consecuções ou geram contratempos que independem de nossa vontade pessoal, porém quando refletimos prudentemente e analisando os fatos presentes, consequentemente teremos um melhor caminho a seguir. Desta forma, estamos garantindo um futuro estruturalmente mais seguro e feliz.
A prudência sem dúvida alguma é a estrutura inerente as outras virtudes.
Vera De Barcellos
(Consulta no “Pequeno Tratado das Grandes Virtudes” de André Sponville e “O ideal Ético dos Rosacruzes” de Serge Toussaint.)